Quando criança eu costumava pegar filhotes de peixe que se “perdiam” em poços formados após os córregos temporários secarem. Por serem pequenos e ainda não entendidos da sobrevivência nesses rios do sertão, quase sempre secos, não atentavam para o perigo em que se metiam ao subirem cada vez mais longe.
Como aqueles peixes perdidos e condenados a não poder retornar ao curso de rios maiores, vejo muitos meninos e meninas se “afogando” em pouca água dos córregos das DROGAS dos quais terão dificuldades de voltar aos “rios” mais seguros do estudo, do trabalho e da convivência social sadia.
Movidos pela inquietação tão bela e típica da idade, acabam protestando contra o próprio corpo e contra a vida deles ou dos outros, quando combinam drogas lícitas ou ilícitas com direção e matam e morrem nas estradas. Perdem, assim, um tempo precioso em que poderiam estar se preparando para enfrentar as fortes correntezas que nos esperam na vida adulta.
Moramos num país que nos últimos quarenta anos praticamente mudou a sua população de predominantemente rural para urbana. Logo, a geração de pais que temos hoje é duplamente distante dos filhos – no tempo e no espaço. Isso dificulta o diálogo entre eles, tão necessário para o direcionamento por águas mais tranqüilas. Sem falar nas condições sub-humanas a que estão submetidos – pais e filhos- nas periferias das grandes e médias cidades brasileiras.
Já aqueles que alcançaram um poder aquisitivo melhor preocupam-se apenas em oferecer aos filhos o conforto material que não tiveram na infância, esquecendo-se do principal, a sua formação ética.
Dos usuários de drogas, os de origem humilde são menos de trinta por cento. Relativamente pouco para um país tão injusto como nosso, entretanto são eles os que mais sofrem as conseqüências. Vivendo em ambientes dominados pela violência e, muitas vezes, sem a proteção necessária da família e do estado, o vicio acaba sendo a única opção para muitos jovens. A eles nem a clinica de recuperação é a ultima alternativa, só lhe restam o trafico e o crime. Depois disso, a prisão e a morte, já que bandido nunca envelhece por aqui.
E os outros setenta por cento de usuários oriundos das classes media e alta? Esses usam o velho jeitinho brasileiro para se safarem da responsabilidade direta que tem com a violência-conseqüência do consumo elevado de drogas. Se eles estão bem, que se danem os morros, as favelas com seus moradores enfiados numa guerra civil. Afinal eles moram nas zonas nobres, nos seus condomínios de luxo onde a violência é menor do que a de paises europeus.
Enfim, somos um país novo, quase um adolescente, que não aprendeu ainda a resolver os seus problemas nem compreendê-los a fundo como faz um adulto responsável. Com isso, deixa parte do seu maior capital – a sua juventude – se perder aos poucos. Também não é para menos, com uma escola ineficiente e desinteressante como a nossa escola pública brasileira, como vamos ocupar tanta gente. Além disso, não dispomos de nenhuma política pública na área de esportes, basta olhar quanto foi gasto no ano passado no seu município ou no nosso estado nessa área.
Daí a responsabilidade com esse problema ser de todos nós, pais, professores, formadores de opinião de um modo geral e dos jovens conscientes e responsáveis. Não podemos ignorar, ficar calado ou fingir que o problema é do vizinho. Que posso fazer então? Falar, falar, discutir, esclarecer, pois, caso contrário, só nos restará pedir socorro. E ai será tarde demais!
Crônica do professor de português: Jailson Lucena